quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

EXtratégias

EXtratégias
“Então, acabou mesmo?” Foi a última coisa que disse aquele dia para o Leandro antes de eu sair pela rua correndo de chorar quando ele disse: “Catarina, não há mais nada a fazer por nós!”. Ele ficou gritando na rua depois, com medo que eu fosse atropelada, mas eu seguia cega, nem sei como cheguei à casa da minha amiga aquele dia.  Foram 4 anos juntos, e que gerou a pequena Lara, ela nasceu com 1 ano de namoro apenas, foi um susto, mas graças a Deus eu já tinha 18 anos e meu pai levou esse fato como um consolo, a filha dele mais velha engravidou maior de idade. Na época foram conturbadas as coisas, mas foram se ajeitando.
Com a bebê com 1 ano fui morar na casa do Leandro. Uma mudança e tanto. Acho que foi isso que estragou nosso amor, tanta convivência, e a sogra criticando tudo. Fora que ela não gostava do jeito que eu cuidava da minha filha. Mas não reclamo, ela também me ajudou alguns momentos para eu voltar a estudar.  
O ano depois da separação foi o mais complicado. Foi decidido que ele ficava com a Lara a cada quinze dias. E eu queria levá-la na casa dele, mas ao mesmo tempo não sabia como agir na frente dele, meu coração saía pela boca toda vez que o via e na minha cabeça o que eu mais queria é que quando ele me visse ele pedisse para voltar e dissesse que me amava. Claro que não foi isso que aconteceu. A primeira vez que levei Larinha, ele abriu a porta abraçou a menina e eu fiquei paralisada, sem uma só palavra, nem me despedi da menina. Ele perguntou: “Tudo bem?”. Eu não respondi. Virei e fui embora, voltei chorando, mas dessa vez não corri, caminhei, e todos me olhavam com dó pensando que eu tinha voltado do cemitério. 
Resolvi passar na casa da Sofia, aquela minha amiga que fui à casa depois do término. Quando ela me viu a primeira coisa que disse foi: “Amiga, que roupa é essa? Que cara horrível”.  Amigos deveriam nos colocar para cima nessa hora. Enfim, ela reclamou de tudo, de que chorar ia me deixar mais feia, que eu tinha que ficar bonita para que quando ele me visse ele ficasse surpreso e tudo mais. Enfim, ela me emprestou umas roupas com decotes e apertadas porque nunca mais usei isso depois que engravidei, me maquiou, comprou uma tinta de cabelo num tom mais escuro para eu mudar. E mudei, mal conseguia me mexer com tanto decote e calça um número menor que o meu e maquiagem extravagante. Meu cabelo até que gostei, não pintava há meses. No outro dia era domingo, precisava buscar a menina, e fui daquele jeito.  Quando fui pegar minha filha  no colo minha calça rasgou, é podia ser pior. E o Leandro quando me viu ficou com vontade de rir, segurou o riso e disse: “Legal seu cabelo”. E entrou. Foi um desastre!
Liguei para Sofia, falei um monte! Ela falou que se esqueceu de um detalhe: “Cat, ele tem que ver que você é requisitada! Aparece com outro na frente dele pra você ver. Ele vai pirar!”. Mas eu não tinha ninguém, e o Leandro conhecia meus amigos e primos, ninguém poderia passar por algum pretendente! Aí veio a idéia! Depois de 15 dias fui eu com uma calça do meu número, maquiada, me sentia até bonita levar a Lara para passar o final de semana com o pai. Assim que ele abriu, ele perguntou como sempre: “Tudo bem”?”Eu respondi: “Perai... Alô? (como alguém tivesse ligado), oi gato! Já vou te ver, beijos” Ele olhou com um olhar esnobe e entrou. Pensei: “Será que ele ficou desconfiado?” E não fui embora chorando dessa vez, e sim toda alegre pensando que o plano poderia ter dado certo. Fiquei esperando a semana toda algum sinal dele me ligar, ou perguntar para alguém de mim. Nada. Ainda tentei, coloquei relacionamento sério no facebook para ver se ele reagia, mas nada.  Ainda insisti nesse plano mais algumas semanas, mas era como ele não tivesse me vendo, como nada tivesse acontecido, e eu era apenas uma conhecida que ele não queria saber notícias.
Fui falar com minha psicóloga e ela me orientou a ser sincera, não fingir algo que não era real. Então fiz o que ela disse, mas este plano também não deu muito certo. Ser sincera para mim piorou as coisas. Quando o via, implorava o amor dele. Abraçava-o, dizia que o amava, chorava, tentava arrancar um beijo e ele me evitava e dizia: “Se você continuar a trazer a Lara e fizer esses escândalos eu vou começar a falar para minha mãe buscá-la”. Minha sinceridade era escandalosa e desesperadora, fazer o que... Comecei a ligar 30 vezes por dia. Até que ele mudou o telefone, deixava mensagem no facebook dele toda noite e publicava coisas depressivas em meu mural.
            Ele chegou a falar para meus amigos próximos para cuidar de mim, que ele estava preocupado com minha situação, que ele não suportava mais. Assim, a estratégia mudou de novo. Arrastada por meus amigos, eu comecei a freqüentar baladas enquanto ele cuidava da Lara, e comecei a me divertir, dançar, era bom. Em uma balada conheci Débora. Ela me disse que eu tinha que aprender a ser má com homem, que eles gostavam de serem pisados. Comecei a sair com ela e ela me tornou bem ruim. Levava Lara para o pai com fralda suja e não levava roupas, o tratava estupidamente. Ele dizia: “Tudo bem?” e eu respondia: “O que você tem a ver com isso?” Fora os palavrões que fazia questão de falar. Comecei a pegar minha filha atrasada, ia buscar ela meia-noite alguns finais de semana. Meu facebook virou só de frases feministas, achava que estava arrasando.
 Em vez de ele gostar de ser pisado, foi falar para o juiz que eu não estava sendo uma boa mãe. Pois estava vivendo de baladas, falando palavrões, tinha transtornos bipolares e não cuidava bem da menina. Tudo que minha ex -sogra queria, eu comprovei para ele.
Enfim, quase perdi a guarda minha filha neste um ano tentando impressioná-lo. Tentando fazer que ele me quisesse de volta. Aí cai na real. Estava perdendo o que eu mais amava, para impressionar um homem? Então achei o ponto neutro da minha vida. Sem desespero para ele voltar comigo ou para encontrar alguém. Simplesmente seguir. Comecei a levar Lara e me despedia dela por um bom tempo, abraçando bem forte e falando para respeitar as pessoas que iam cuidar dela, a se comportar. Voltei a ser eu, a ser a mãe de sempre, eu amava aquela menina e amava educá-la.
Comecei a pensar em mim, comecei a fazer curso de moda que sempre quis, conheci pessoas novas. Ocupar a cabeça com outras coisas. E Leandro aos poucos foi ficando para trás. Gostava de vê-lo, de bater aquele papo: “Tudo bem Catarina?” “Tudo ótimo Lê. E você?” Aquele “tudo bem” dele não me causava efeitos, nenhuma raiva. E ele respondia: “Tudo também. Quer entrar para tomar um café?” E eu: “Ah Leandro, não tomo mais café, esse vício já me desfiz. Quem sabe outro dia. Tchau, tchau!” Mal sabia ele, que o vício que eu tinha dele, também estava me desfazendo...
Finalmente percebi o olhar diferente, ele me olhava admirado agora, sem dó, sem espantos. E eu gostava daquilo. Não esperava nada além daquilo. Só aquele olhar bastava. Eu queria arrancar olhares assim não só dele mais de muitas pessoas. E assim pude seguir e dar novas chances para mim, finalmente me senti realizada e feliz. Já estava pronta como mulher para ter novamente um relacionamento com qualquer pessoa. E o Leandro? Ah vocês não sabem! Ele acabou me ligando, combinamos um jantar semana que vem, o que vai dar eu não sei, estou sem expectativas, acredite. O importante é que descobri que com ele ou sem ele eu posso e vou ficar muito bem! A minha estratégia é não ter estratégias!
Mayara M.